Da frivolidade do “feliz aniversário” pelo Facebook

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David Plotz resolveu fazer quatro aniversários no mesmo ano. Por trás da decisão não havia nada da frustração infantil de ter apenas uma festa em meio a tantos meses sem a montanha de presentes. Era um experimento para provar a impessoalidade do desejar parabéns a seus amigos aniversariantes pelo Facebook (ou por qualquer meio digital).

Você sabe como nem sempre são apenas nossos amigos mais próximos que, adicionados na rede social, recebem nossos comentários, links, vídeos e lembretes de aniversário. Há colegas de trabalho, conhecidos de eventos, familiares longínquos e tantos outros grupos, na maior parte das vezes, sem relação entre si (teoria que fundamentou os círculos do Google+). Plotz descobriu um ponto em comum entre todos os componentes destes grupos: muitos não dão muita atenção pra quando você realmente completa anos.

Na Slate, ele explica: após seu aniversário genuíno em 31 de janeiro, ele mudou a data no Facebook para aniversários nos dias 11, 25 e 28 de julho. Três aniversários em um mês – com dois separados por apenas três dias – seria o suficiente para sua piada ser facilmente descoberta, não? Errado.

No primeiro aniversário de julho, foram 119 recados. Apenas um contato estranhou. No segundo, 105 desejaram saúde, sucesso, anos de vida e afins. O número dos que suspeitaram subiu para 9. No terceiro, 71 felicitações e um maior número dos que pegaram a piada: 16 pessoas. No total, 30 pessoas desejam parabéns a Plotz nos três aniversários falsos, às vezes com um mesmo texto genérico. É mais gente que aqueles que, assustados, ligaram ou abordaram Plotz ao vivo para entender o que acontecia.

É um experimento divertido, mas não conclusivo – pode-se argumentar (com razão) que os números são baixos frente aos mais de 1,5 mil contatos que Plotz tem no Facebook. Ainda assim, é um exemplo emblemático do papel que a rede social assumiu no nosso gerenciamento de datas especiais. Não é um fenômeno exclusivo do Facebook – o Orkut fazia o mesmo, lembra? Trata-se de um reflexo condicionado. Tal qual o cachorro que babava sempre quando Ivan Pavlov soava a campanhia, muitos de nós veem o aniversário de alguém na barra direita, fazem seu comentário e apagam completamente a informação do cérebro.

São palavras chochas. “Os recados têm o sentimento genuíno de um cartão de Natal do seu banco”, descreve ele. E não pense que é uma crítica hipócritca – me encaixo entre aqueles que já desejaram dezenas de “feliz aniversário!” como quem diz que não é preciso imprimir a segunda via das compras feitas com cartão de débito. Plotz acerta na mosca: “um número significativo de membros do Facebook claramente usa o serviço sem sentimento, tentando construir capital social com desejos impensados e baseados em memórias que, na verdade, não existem”.

SocialGift promotional video from chuchilin on Vimeo.

É ruim desejar feliz aniversário pelo Facebook? Pessoalmente, diria que a resposta depende do seu grau de intimidade. Se um amigo de infância escreve um recado impessoal, merece um belo pescotapa. Mas não é o caso de se aborrecer quando um contato mais distante usa uma frase batida. Se for um GIF daqueles programas irritantes, o aborrecimento tá liberado.

E, no meio desta explosão de empreendedorismo digital, por que não tentar transformar esta impessoalidade em modelo de negócios? A SocialGift se propõe a fazer uma vaquinha entre os amigos do aniversariante, mesmo que eles não se conheçam. Presentes são propostos, os amigos votam, escolhem e pagam. A startup americana faz o serviço de entregar o presente escolhido. A ideia é boa já que vender produtos explorando a coordenação da rede de contatos do aniversariante é ainda algo praticamente inédito. Se o hábito novo pegar, a startup se dá bem, o varejo vende mais e o aniversariante ganha um presente a mais.

Até a SocialGift ter usuários suficientes para seus amigos demonstrarem o quanto gostam de você com uma nova TV de LED,  contente-se com recados que, de vez em quando, lembram as cartas do banco.

Via: Tecneira