[Artigo copiado na [integra DAQUI] É da natureza do ser humano desejar o melhor para os filhos. Desejar que tenham uma vida melhor que a dos pais, contribuindo para isso com o compartilhamento da experiência de vida e uma certa pressão para que as crias “andem na linha”.
Não faz tanto tempo que os pais exigiam que os filhos se graduassem em direito, engenharia ou medicina. “Meu filho vai ser doutor”, enchiam a boca para dizer. Logo depois veio administração, como um curso da moda, seguido por odontologia, arquitetura, jornalismo e outros que aquela geração não consideraria tão importantes, mas honestas e promissoras, ao lado de outras como contabilidade, publicidade, hotelaria, jornalismo etc. Os cursos que “garantem o futuro”, ouvíamos, ali, colado com destinos como se tornar bancário ou tentar cargos públicos. “Ah, você vai ser importante” migrou para “meu filho, o diploma vai lhe permitir participar de concursos” – e, quem sabe, garantir prisão especial.
Direito? Medicina? Engenharia? Aptidão, talento ou planejamento (como clientes que passam de pai para filho) podem influenciar na escolha da profissão mas, se quer saber, recomendo olhar com carinho para Ciências da Computação e suas áreas correlatas, como mecatrônica, engenharia eletrônica e cia. É ali que o futuro está.
E, sejamos pragmáticos, não vale apenas para seu filho, talvez você precise parar e olhar com cuidado para essa possibilidade. Não é incomum depois de se formar um profissional descobrir que não era exatamente aquela área onde queria trabalhar. Se tem essa dúvida, bom…
Não há volta, quanto mais nos tornamos digitais mais desenvolvedores são necessários – acredite, hoje são disputados a peso de de ouro com algumas vagas pagando 40 mil Reais mensais para guris com 22 anos de idade (se você fala inglês e alemão e está disposto a mudar de país). Quase todos os programas de imigração do mundo apresentam oportunidades para a área de desenvolvimento e TI. Alguns apenas para essas áreas. Onde você quer morar? Canadá? Polônia? Alemanha? Austrália? São milhões de vagas que, como Gremilins, se multiplicam sem nunca serem totalmente preenchidas.
E pensar em desenvolver, em programar, pode ser questão de sobrevivência.
Veja o mídia digital. Uma profissão que não existia há 10 anos e que provavelmente irá desparecer nos próximos, nasceu da necessidade digital e vai morrer pelas mãos da mídia programática. E não são só eles que estão em risco. Advogados, vendedores de seguro e até mesmo engenheiros já vêem o Watson, da IBM, como o nêmesis de suas profissões. Caminhões já circulam sem motorista, completamente autônomos. Carros autônomos já são testados nos EUA, inclusive pelo UBER. Sistemas são testados com sucesso escrevendo sozinhos artigos para jornais, roteiros de filmes e até mesmo música sem intervenção humana. Robôs pintam unhas, cortam cabelos, cortam e costuram roupas e outros limpam o chão. Aplicativos e sistemas tornam a vida das pessoas mais simples ao ponto delas precisarem cada vez menos de prestação de serviço de terceiros. No campo máquinas aram e plantam sozinhas, gado é fiscalizado por drones e o processamento dos insumos é cada vez mais automatizado. Até a medicina enfrenta uma dura quebra de paradigma quando desenvolvedores tentam colocar no mercado aparelhos capazes de diagnosticar centenas de doenças comuns… em casa.
“Eden, mas é a publicidade? Nela há muito de coração, de sentimento”. Olha, publicidade é um mercado onde o mediano é quase uma regra. As marcas estão começando a entender que performance (geração de leads) é bem mais importante que ganhar prêmios. Que ser eficiente é mais importante que ser criativo (sim, eu sei, em alguns casos ambos andam juntos, mas são alguns). Logo máquinas, por meio de uma infinidade de testes, poderão escrever títulos e conteúdo para anúncios perfeitamente ajustados para determinado público, usando termos e construções que garantam melhores resultados. Milhares de textos escritos em segundos. E a arte? Em breve a Adobe vai focar em alimentar seus sistemas com moods e templates, permitindo que ele projete sozinho a arte para aquele anúncio, com a pegada desejada e com os ajustes mais eficientes para o target, tal como cor de fonte, tamanho, disposição e coisas do tipo. Menos arte, melhor performance. E isso é natural, a propaganda vai parar de falar para cortes amplos e falar para cada um de nós, e para isso só automatizando mesmo.
Sim, eu sei, sempre teremos os grandes advogados, engenheiros e até mesmo mídias digitais, mas entendem o quanto o mercado de trabalho vai reduzir quando não houver espaço mais para o mediano? Quando só houve espaço para quem realmente se destacar? Sempre haverá o artista, o gênio, a pessoa fora da curva. Durante muito tempo ainda haverá valor na intervenção humana. Mas já parou pra se perguntar o que é “muito tempo” nos dias de hoje?
Para cada novidade facilitadora de sua vida milhões de linhas de código são escritas. Do relógio de pulso que interage com o celular à lâmpada de casa conectada ao wi-fi (sério, existe). Da fábrica ao aspirador de pó robotizados. Do carro voador ao teletransporte. Empregos são perdidos, empregos são criados. É o ciclo.
Programação já devia ser matéria de base nas escolas, como é português e matemática, como devia ser direito constitucional e introdução a administração financeira.
Já sabem, se seu filho perguntar “mãe, pai, o que acham que profissão acham que devo seguir”, respondam “a que quiser, meu filho, mas se eu fosse você começava a pensar em programar”. E não demorem, afinal algumas máquinas já começaram a SE programar sozinhas.
Sério.
Por Eden Wiedemann, CEO na Wololo